Manejo florestal comunitário é alternativa para o desenvolvimento sustentável de UCs no Marajó

Manejo florestal comunitário é alternativa para o desenvolvimento sustentável de UCs no Marajó

    A última safra do açaí foi histórica para os produtores da cooperativa agroextrativistas dos rios Aramã e Mapuá (Coama), no município de Breves, região do Marajó. Fundada há sete anos, a organização comemorou a conquista da primeira venda de açaí certificado. A cooperativa, formada por 59 famílias, conseguiu fechar negócio com uma fábrica do estado de São Paulo e comercializou, em agosto do ano passado, 252 toneladas de açaí certificado de manejo.

      “Essa conquista é muito importante para a nossa comunidade. Pois, além de movimentar a economia local, ela qualifica a produção do fruto e, principalmente, ajuda a quebrar a mediação com o atravessador, que sempre foi um grande problema pra gente”, afirma Janari Gonçalves, presidente da Coama.

       O sentimento de conquista do gestor comunitário também é compartilhado pela produtora de açaí Michele Marques. Liderança da Reserva Extrativista Mapuá, ela afirma que a comercialização do fruto via cooperativa era um sonho dos moradores, e que agora, graças ao apoio do Instituto Floresta Tropical (IFT), se tornou realidade. “Já estamos nessa luta há muito tempo porque a gente acredita que organização social é fundamental para o fortalecimento da nossa comunidade”.

Janari Gonçalves, presidente da cooperativa agroextrativista da Reserva Extrativista Mapuá (Foto: Acervo/IFT)

     A primeira venda da cooperativa é resultado de uma parceria dos moradores da Resex com o projeto Florestas Comunitárias do IFT, que através de oficinas de qualificação, promoveu diversas orientações aos comunitários como capacitações técnicas sobre cooperativismo e associativismo, cadeia de valor do açaí, segurança do trabalho e técnicas de manejo adequado na produção e armazenamento do fruto. O projeto, que tem como finalidade apoiar a implementação de modelos de manejo florestal comunitário para uso e comercialização de madeira e açaí em Unidades de Conservação, conta com o apoio financeiro do BNDES, por meio do Fundo Amazônia.

    “Isso é um marco histórico para o território e precisa ser celebrado. Porque o primeiro grande desafio foi instituir e manter regularizada a cooperativa em si. O território precisava ter o seu empreendimento comunitário e a cooperativa nada mais é do que empresa da comunidade. Isso regulariza e fortalece a produção dessas famílias”, destacou a engenheira florestal Amanda Quaresma, responsável pelas oficinas direcionadas para a cadeia de valor do açaí, promovidas pelo IFT.

Exploração sustentável de madeira

    Além da primeira venda de açaí certificado, 2021 também foi marcado pela comercialização do primeiro lote de madeira legalizada da Resex Mapuá. O volume explorado, de 367 m³ de madeira em tora, é referente à primeira Unidade de Produção Anual (UPA), iniciada em dezembro de 2020.

    “O manejo florestal comunitário era um projeto antigo dos moradores daqui. Há muitos anos a gente aguardava por esse momento, pois, sabemos que ele pode significar um divisor de águas no desenvolvimento da nossa comunidade”, comemora o agroextrativista João Batista Brandão, do grupo de manejadores do rio Aramã, responsável pela exploração florestal da primeira UPA.

Comercialização do primeiro lote de madeira legalizada da Resex Mapuá, no Marajó, em abril de 2021 (Foto: Acervo/IFT)

      A exploração florestal na localidade atende as recomendações do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão responsável pela aprovação do Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) da RESEX, em setembro de 2019. O Plano contempla uma área de aproximadamente 6.300 hectares, dividida em dois polos comunitários: “Boa Esperança” e “Santíssima Trindade”.

     De acordo com Marcelo Galdino, coordenador do programa Florestas Comunitárias, do IFT, a atual etapa do manejo sustentável de madeira na RESEX é reflexo da organização comunitária e do PMFS, que começou a ser elaborado em 2018 a partir de uma oficina do IFT destinada ao grupo de manejadores locais. “Todo o processo de elaboração do plano de manejo contou com a participação da comunidade. Desde a primeira reunião até a finalização do plano, tudo foi feito de forma participativa, ouvindo os manejadores da Unidade, ICMBio e o conselho gestor da RESEX”, destaca Galdino.

          No Plano de Manejo Florestal Sustentável a comunidade se propõe a promover o uso tradicional dos recursos naturais de forma sustentável, condizentes ao modo de vida da população tradicional residente no interior da RESEX. Além do Mapuá, o projeto do IFT atende mais duas RESEX no Marajó: Terra Grande Pracuúba, localizada no município de Curralinho; e Arióca Pruanã, no território de Oeiras do Pará.

      O projeto de manejo madeireiro sustentável atendido pelo IFT na RESEX Arióca Pruanã também conta com o apoio da empresa STIHL Ferramentas Motorizadas Ltda. Em fevereiro deste ano, os manejadores da Cooperativa Mixta Agroextrativista da Unidade de Conservação receberam diversos equipamentos doados pela multinacional. A doação faz parte de um projeto firmado entre a companhia e o IFT com o objetivo de fortalecer o manejo florestal na localidade.

Lancha voadeira doada pela STIHL atende as demandas do manejo sustentável na RESEX Arióca Pruanã (Foto: Acervo/IFT) 

 

    O acordo, assinado em novembro de 2019, prevê o fortalecimento das organizações locais, a doação de ferramentas e o aprimoramento técnico especializado aos manejadores comunitários. Além desses equipamentos entregues, a parceria com a STIHL também já contemplou a associação de moradores da Resex com uma pequena embarcação motorizada. O veículo, doado em outubro do ano passado, tem ajudado na logística da produção agroextrativista feita pela comunidade.

Sem Comentários

Publicar Um Comentário