É possível prosperar e manter a floresta em pé: bioeconomia e sociobiodiversidade

É possível prosperar e manter a floresta em pé: bioeconomia e sociobiodiversidade

Por Paula Vanessa Silva da Silva

 

A Amazônia se consolida como palco de debates essenciais sobre o clima, a biodiversidade e os povos tradicionais. Em um mundo em emergência climática, a bioeconomia desponta como alternativa promissora para unir conservação e desenvolvimento. Mais do que proteger a floresta em pé, trata-se de criar condições para que populações locais prosperem, gerem renda de forma sustentável e mantenham vivos seus conhecimentos ancestrais.

Foi com essa visão que o Instituto Beraca (IB) desenvolveu, ao longo de uma década, metodologias e projetos voltados à estruturação de cadeias de valor de Produtos Florestais Não Madeireiros (PFNMs), aliando negócios sustentáveis à valorização sociocultural de territórios agroextrativistas. O resultado é expressivo: nos últimos cinco anos, mais de R$ 8,2 milhões foram mobilizados em 33 projetos, beneficiando 22 municípios e 36 organizações sociais, principalmente na Amazônia. Esses projetos impulsionaram ações de restauração florestal, empoderamento feminino, ampliação de parcerias com o setor privado e repartição de benefícios pelo acesso ao patrimônio genético e aos saberes tradicionais.

Falar em sociobiodiversidade é reconhecer a conexão entre recursos naturais e culturas locais — indígenas, ribeirinhas, quilombolas — que há séculos habitam a floresta. Valorizar essa relação é reconhecer que o conhecimento ancestral é central para um modelo de desenvolvimento inclusivo e resiliente. Óleos de copaíba, sementes de açaí e frutos de cupuaçu são exemplos de produtos que geram renda e preservam a identidade cultural das comunidades.

Para que essas práticas ganhem escala e relevância global, é preciso fortalecer os grupos sociais, investir em inovação, organização socioprodutiva, apoio técnico, certificações e governança. Mercados internacionais demandam transparência, qualidade e garantias socioambientais. Nesse contexto, o trabalho do IB, agora incorporado ao Instituto Floresta Tropical (IFT) por meio da Gerência de Sociobiodiversidade e Bioeconomia (GSB), amplia ainda mais a capacidade de articulação entre comunidades, empresas, financiadores e governos.

Nos últimos meses, as discussões sobre pagamentos por serviços ambientais, políticas de incentivo à agrofloresta e soluções baseadas na natureza se intensificaram. A GSB nasce para articular recursos e saberes, mostrando que a conservação produtiva é uma realidade possível. Nossa missão é integrar práticas de manejo sustentável, ativação econômica e cooperação inovadora — sempre com a floresta e as pessoas no centro.

Investir em sociobiodiversidade e bioeconomia é mitigar mudanças climáticas, mas também reduzir desigualdades, fortalecer culturas e construir pontes entre tradição e inovação. Convidamos empresas, organizações, governos e comunidades a somarem forças. Quando a floresta prospera, todos prosperam. A Amazônia, com sua diversidade natural e cultural, deve ocupar o centro das decisões por um futuro mais sustentável.

 

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Paula Vanessa Silva da Silva é Gerente de Sociobiodiversidade e Bioeconomia (GSB) do Instituto Floresta Tropical Johan Zweede (IFT)

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